"Estes não serão cinco anos fáceis". Quem é Kaja Kallas, a nova responsável pela diplomacia europeia

por Carla Quirino - RTP
Foto: Johanna Geron - Reuters

A partir de 1 de dezembro a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança é Kaja Kallas, antiga primeira-ministra da Estónia. Kalas será também uma das vice-presidentes da Comissão. Deverá permanecer nos cargos até 31 de outubro de 2029.

"Vejo coligações autocráticas a formarem-se à nossa volta e mudanças geopolíticas ameaçadoras a ocorrerem por todo o mundo", alerta Kaja Kallas , no arranque da nova missão como a nova alta representante da União Europeia para as relações exteriores.

A partir deste primeiro dia de dezembro, a antiga primeira-ministra da Estónia assume a chefia da diplomacia da União Europeia.

Para Ursula von der Leyen, Kallas "é a pessoa certa no momento certo para a diplomacia e para os interesses da Europa no mundo", afirmou a presidente da Comissão Europeia na apresentação da nova equipa aos eurodeputados.

Ex-advogada de 47 anos, Kaja tem um currículo rico em conhecimento sobre a União Europeia. Foi deputada ao Parlamento Europeu, membro do grupo Liberal Democrata (Renew) entre 2014 e 2018. Depois, como primeira-ministra da Estónia, juntou-se aos outros chefes de Estado e de Governo no Conselho Europeu entre 2021 e 2024.

Kaja Kallas assume-se uma europeísta convicta. Segue as pisadas do pai, Siim Kallas, antigo Comissário para a Administração e a Luta Antifraude e Vice-Presidente da Comissão Europeia entre 2010 e 2014.

Kallas recorda que a Estónia atingiu a prosperidade após a adesão à UE e classifica os momentos anteriores quando o país deixou a União Soviética, comparando-os a uma prisão.

"Faço parte da geração sortuda", disse ela à revista britânica The New Stateman em junho passado. "Vivíamos numa prisão, sem liberdade, sem escolhas, sem nada. Em 1991, quando eu era adolescente, recuperámos a nossa independência e liberdade".
Kallas versus Rússia
Kaja Kallas está na lista de procurados da Rússia por apoiar a destruição de estátuas da era soviética na Estónia.

Para além dessa animosidade com Moscovo, a nova chefe da diplomacia da UE já deixou claro que condena de forma consistente a invasão russa da Ucrânia em 2022. 

"A Rússia trouxe a guerra genocida em grande escala de volta ao solo europeu”, sublinha. “A Rússia mantém todas as pessoas na Ucrânia sob a mira de uma arma, todos os dias e todas as noites. Um dia, este poderá ser o destino do resto da Europa. Ou não, se optarmos por agir e evitá-lo", acentua.

“Aceitemos o facto de a história nos convidar a tomar decisões corajosas. Tudo o que fizermos hoje terá consequências concretas para todos nós amanhã”, acrescenta.
Nova dama de ferro da Europa
Kallas foi uma das primeiras políticas da Europa a alertar para o posicionamento das tropas russas ao longo da fronteira ucraniana. Nessa altura, a Estónia já fornecia armas à Ucrânia e continuou.

A chefe da diplomacia europeia espera, naturalmente, que a Ucrânia saia vencedora do conflito e apela à justiça contra o agressor russo e criminosos de guerra.

Perante a assertividade de declarações já lhe valeu o epíteto de "a nova Dama de Ferro da Europa" e Kallas garante que está determinada a manter o rumo.

Ao anunciar as prioridades para os próximos cinco anos no Parlamento Europeu, Kallas apelou à União Europeia para que mantivesse o apoio à Ucrânia. 

"Temos de continuar a trabalhar todos os dias. Hoje, amanhã e durante o tempo que for necessário e com toda a ajuda militar e financeira que for necessária", sublinhou.
Investir em defesa
Sobre a ameaça à Europa, a nova chefe da diplomacia apela aos Estados membros para que invistam mais na sua defesa. Esta estratégia é uma exigência mencionada diversas vezes por Donald Trump durante o primeiro mandato presidencial norte-americano e mantida na segunda companha presidencial. 

Por isso, a sucessora do espanhol Josep Borrell acredita que perante o desafios do regresso do republicano à Casa Branca, Kallas refere que espera encontrar-se com Trump para "elaborarem políticas comuns".

Ainda como primeira-ministra da Estónia, considerou que uma parte maior do orçamento da UE deveria ser dedicada à defesa. Atualmente, acredita que deveria realizar-se um plano estratégico que contemplasse um empréstimo europeu comum, como os 27 tinham feito para fazer face ao impacto económico da pandemia de Covid-19.

Kallas deixa ainda uma mensagem inquietante e exalta a união: "Estes não serão cinco anos fáceis. O mundo está a pegar fogo, por isso temos que nos manter unidos".
Tópicos
PUB